Capitulo 38

Não existia mais diversão, mais música, mais nada, apenas o silêncio e os passos cuidadosos de Augusto caminhando ao seu lado. Arthur tinha conseguido, realmente tinha acabado com seu dia e agora sua noite. 

Nenhuma palavra dita, a mão firme dele amparando sua cintura evidenciava o mais terno gesto, e ela entendia perfeitamente que ele estava do seu lado. Augusto respeitou seu espaço, não questionou, não insistiu, ela precisava pôr tudo aquilo pra fora, quando quisesse, duvidava que ela tenha conversado com Luan, foi tudo muito rápido, desde sua saída até sua volta, então, ele seria a pessoa certa e sentia que não era apenas Arthur o assunto da noite.

Adentram na casa silenciosa pouco iluminada a não ser com alguns abajur acesos, a deixa sentada no sofá enquanto ia até a cozinha voltando com duas xícaras.

Tentava fazer uso do seu bom humor: - Acho que alguém me deve uma xícara de chocolate quente – ri - Toma, vai te fazer bem – ela segura e não bebe, estava ainda em silêncio – hey! Eu estou aqui tá bom? Sabe que pode confiar em mim! – ela concorda e em segundos desaba em seus braços chorando.

- Xiu! Vai ficar tudo bem!

- Não vai! Ele conseguiu Augusto – soluçava – antes eu pensava que era apenas birra, mais ele realmente me odeia, primeiro foi o orfanato, agora a  Bia. O que falta mais acontecer?

- Você ainda tinha esperanças que ele mudasse?

- Acabou tudo essa noite! Ele passou dos limites e eu...não deveria ter entrado no jogo dele, deveria ter me impedido Augusto!

- Ele mereceu ouvir tudo aquilo de você e – para evitando falar mais continua – e do Luan. – ela respira fundo lembrando das palavras dele lhe defendendo.

 - O que está acontecendo? Não é só o Arthur que está te perturbando, sei que tem algo mais, somos amigos lembra? Desabafa, vai te fazer bem.

- Minha vida é uma droga Augusto! – desconversa.

- Ei, ei – pega em seu rosto e obriga ela a lhe encarar - Não fala assim, seu irmão gosta disso, e é exatamente assim que ele quer te ver,  exatamente como você fez hoje a noite Maria Cecília! Não seda aos jogos dele, seja superior!

-  Eu não consigo! Eu já tentei mais não consigo ignorar as provocações dele, ele sabe como me atingir! Tinha que ser logo a Bia Augusto? Logo ela? Ele não merece ela, ele não presta e tá só usando ela pra me ferir, eu sempre percebi que a Bia tinha uma quedinha – fala com descaso – pelo Arthur mais chegar a isso? Eu não aceito! Isso é demais pro meu estômago. – O Arthur não tem limites.

- Tô percebendo isso – fala em tom decepcionado - mais eu estou aqui ok? Se não quiser ir pra casa, pode dormir aqui, tenho quartos limpos sobrando aí – apontava na direção – caso queira pensar, esfriar a cabeça e enfrentar tudo amanhã – ela não respondia – só acho que você tem que falar com a Bia, ela precisa de uma explicação sua...

- Ela já sabe o que eu penso!

- Ela não sabe o que a Maria Cecília pensa, nem o que ela sente! – rebate – e eu adoraria saber também.

- Maria Cecília é fraca, burra, idiota, uma pessoa que todos pisam e fazem o que querem!

- Você não se vê com clareza! Maria Cecília é amiga, divertida, humana ao ponto de dar seu suor sem nenhum retorno financeiro em um orfanato e corajosa o bastante pra enfrentar o irmão, e levar um doutor pra ter uma noite incrível numa boate tomando Tekila. É assim que eu enxergo você.

- Obrigada.

- Acho que tem algo a mais pra me contar? Como foi com o Luan? Vocês conversaram?

- Você é esperto demais... – entende onde ele queria chegar.

- Apenas observo as situações na minha volta, e você também é esperta porque sabe de quem eu estou falando não sabe? – enfrenta.

- Luan – admitia.

- O que está acontecendo entre vocês hein? Nunca vi aquilo, a forma com que ele estava perto de você, te defendendo contra o Arthur!

- Somos amigos. E se ele não tivesse feito aquilo, tenho certeza que você o faria. – ameniza.

-  Sim, eu já estava perdendo a paciência, mais com ele foi diferente, tem certeza que é mesmo apenas amigos? – interroga.

Ela respira fundo, parece que ele realmente tinha percebido: - É o que ele diz.

- O que ele diz? – repete - E você o que diz sobre isso?

- Eu?  - para pensando no que dizer – eu preciso de uns conselhos de um amigo. – ri mais calma.

- Vou pegar mais chocolate quente – levanta até a cozinha.

- Que noite hein? Você descobre que sue irmão namora sua amiga, sabe que ele tá usando ela e não consegue disfarçar isso na frente de todos armando um barraco, acaba na casa do Augusto, tomando chocolate quente prestes a revelar sua paixão impossível na esperança dele te dizer pra parar, que isso é loucura e que não vale a pena – ri duvidando que ele faria isso.

- O que foi? Qual é a graça? – ele chegava com mais duas xícaras de chocolate quente.

- Minha noite fez jus ao meu dia de cão!

- Vamos mudar isso ok? Estou todo ouvidos agora, amigos lembra? – senta ao seu lado.

- O que você acha que está acontecendo comigo? De verdade?

- Vocês estão apaixonados! – fala com segurança.

- Errado, eu estou apaixonada. – ri amarelo admitindo.

Augusto não se surpreende: - Não é o que me parece mais me conte e no final digo meu veredicto. – acomoda-se prestando atenção em suas palavras.

- Bom, é complicado – gesticulava com uma das mãos, vez ou outra batendo na sua xícara -  não era pra isso acontecer, começou como uma diversão de Paloma Fortezza, numa boate pra estragar os planos do irmão o provocando com o Luan Santana, que é seu amigo e...

- E a brincadeira virou amor?

- É – ri – nós não saímos na primeira noite que o conheci, trocamos algumas carícias e de verdade? Sexo não era meu objetivo naquela noite, o que Luan também percebeu, ele viu qual era meu plano, ele viu o que mais ninguém conseguia enxergar, minha revolta!

- Ele percebeu que você o usou?

- Sim, mais insistiu em me procurar, ouviu histórias sobre mim, que eu não saia com um cara mais de uma vez e...

- Isso é verdade?

- Era verdade, mais ele não desiste fácil e começou a lutar pela sua vez, como todos os outros – admitia sem nenhum orgulho – até que aconteceu.

- E?

- Foi incrível!

- Foi a partir daí então que começou esse sentimento?

- Não sei exatamente de onde começou, só sei que as lembranças dessa noite ainda estão vivas em mim, ele foi diferente – Augusto entendia – e do contrário do que eu esperava começou a insistir, por uma segunda vez, normal todos faziam isso – fala em tom decepcionado.

- E pela sua entonação, você acha que ele tenta isso até hoje certo?

- Não depois daquela conversa no carro – ele a olha acusador – não aconteceu nada lá além da conversa, ele queria saber a verdade sobre mim, minha vida, minha família e Paloma, acabou conseguindo, contei tudo.

- Por que quis?

- Não, percebi que só falamos os nossos maiores segredos pra quem confiamos e consequentemente amamos. Estar perto dele é muito difícil pra mim, principalmente naquela noite, trancada daquele carro, ouvindo a respiração e as batidas do seu coração, sentindo seu perfume e controlando o desejo de querer tê-lo só pra mim, o que se iguala ao impossível, assim como foi difícil hoje, ver ele me defendendo foi a melhor coisa que me aconteceu em anos, talvez desde que nasci, ouvir ele enfrentando o Arthur por mim foi... – faltavam-lhe palavras para explicar.

- Você o ama! – concluía.

- Amo e já desisti Augusto – tinha o tom da derrota -  ele não é pra mim, Paloma Fortezza nunca será esquecida, ela fez muitos estragos e isso levaria anos, além do mais, já fiquei com vários amigos dele, e sim, eu sei que não sou correspondida, ele diz que quer ser meu amigo, me ajudar e eu acredito nisso, tive a prova hoje.

- Ele está te mudando Cecília, não percebe? Como diz que ele não te ama? Você não tem certeza disso!

Ela ri decepcionada: -  Eu que estou mudando Augusto, porque eu mesma quero; na ilusão de despertar algo nele, de fazer ele ver que eu sou uma garota legal, apenas isso. – dá de ombros.

- Não duvide que ele não te ama, ninguém segue outra pessoa por curiosidade, não insiste em algo sem motivo e não compra briga com o cara que é além de amigo contratante dele por causa de você, VOCÊ É IMPORTANTE PRA ELE,  e se você visse como ele olhava você hoje a noite, outras noites...não é a primeira vez que encontro o Luan e ele já me perguntou sobre você, se eu te entendia...acho que ele não quer admitir que...

Ela não queria ouvir aquilo, saber que era importante pra ele lhe dava vontade de explodir, esquecia de tudo ao seu redor e não queria se iludir: - É melhor assim Augusto, não quero alimentar falsas esperanças, prefiro trabalhar com o impossível, e não dar asas a esse coração, e tem o Arthur, nunca conseguiria ficar com o Luan, ele estragaria tudo.

- Não, você é maluca em pensar assim? Lute por ele!

- Não me diga pra fazer isso – suplicava -  diga que eu sou louca, que ele nunca vai me ver como eu o vejo, me peça pra parar, pra matar esse sentimento, pra eu esquecer, que não vale a pena, por favor?

- Se eu fizer isso, Paloma vai voltar, e nem eu, nem você, nem o Luan queremos isso, mostre a ele quem é a Maria Cecília, mostre tudo de bom que ela tem, conquiste-o.

- Não, não, não! Isso é loucura, Augusto, já pensou o que iria acontecer se por acaso eu namorasse o Luan? Já pensou? Londrina iria me matar, Luan Santana namorando a vadia da Paloma? Fora de cogitação meu amigo e por favor não me alimente com isso, porque eu...

- Não quer prejudicá-lo? Mais Maria Cecília, isso é amor entende? Amor de verdade! Você se importa tanto quanto ele! Não pode desistir, sabe o que vou fazer? Vou perguntar  ao Luan qual é a dele!

- Você é maluco? – levanta nervosa.

- Não, sou seu amigo e sou homem tá? Sei como conversar sobre isso!

- Não Augusto, não, não!

- Do que você tem medo?

- Da verdade.

- De que ele te ama, ou que não quer nada com você!

- Das duas, ambas vão me machucar! Se ele não me ama será a dor da decepção, e se ama, será a dor do que não vai durar muito, ele é famoso, não diferente da minha fama aqui na cidade e sabe o que isso significa não é?

- Se for amor de verdade, resiste a tudo.  – insistia - Se você visse como ele estava com você naquela manhã enquanto dormia, ele estava acordado, de olhos fechado mais dava pra perceber, acariciava seu braço com os dedos e parecia sorrir, isso não é uma ação de amigo, e sim de quem ama, ele só não atentou pra isso ainda.

- Augusto, é loucura, amanhã eu vou passar o dia com ele –sorri – no orfanato.

- Vai levá-lo?

- Bom, ele não sabe ainda que iremos pra lá, também precisamos conversar. E também...Preciso ser mais esperta que o Arthur! Esteja sempre a frente do seu inimigo!

- Mesmo quando ele é seu irmão?

- Ele não me vê como irmã Augusto, e sim como rival!

- E você? O vê como?

- Como alguém que precisa de ajuda.

- Você vai contar pro Luan que o ama?

- Não! Eu ainda tenho sanidade aqui dentro, você já se apaixonou alguma vez? – pergunta.

- Várias vezes e você? – silêncio – primeira vez?

- Sim, o que não me impede de ler relatos de que nunca revele sua paixão, sofremos mais quando o outro sabe do que sentimos, e não quero me machucar, nem que ele me machuque.

- Isso e idiotice! Seja franca!

- Não posso, não agora...

- Prefere ficar vendo ele com outras? Prefere sofrer em silencio? Dê-lhe ao menos motivos de pensar em você!

- Começo a entender que a Bia pode realmente estar amando meu irmão, porque quando amamos, nos submetemos a várias coisas, inclusive ao sofrimento, sofrimento de ver ele com outra, de saber que está se divertindo com outras pessoas que não eu.

- Você pode ter tudo isso, se lutar por ele.

- E a Bia? Ela não pode nem lutar, não quero me submeter a estar do lado de Luan por...

- Sexo? E isso que você acha não é?  - percebe o que ela tinha medo, de não ser correspondida e ele ferir seus sentimentos apenas satisfazendo suas vontades - Eu vi vocês quase se beijando lá fora Cecília, põe uma coisa na tua cabeça, homem quando quer, não fica morgando não, avança, vai direto ao ponto, você acha que se o Luan quisesse brincar com você...

 

Não aceitava: - E se for só sexo? Só desejo?

Ele ri – Sabe o que eu vejo na minha frente? – ela faz que não – apenas uma menina com medo de machucar seu coração, tantos caras que você ficoue não aprendeu nada sobre eles?

- Nenhum presta, apenas isso.

Se dá por vencido: - Só saberá se tentar – isso era o pior, tentar, não queria, era loucura demais jogar e arriscar seu coração.

- É uma via de mão única, se eu seguir não tenho como voltar, corro o risco de ficar perdida no meio do caminho.

- Se você seguir, realmente não tem volta, mais tem todo o caminho pela frente, pode levantar se cair e mesmo com os joelhos machucados, o caminho estará lá, sempre em frente, a escolha e sua.

- Eu tenho que ir Augusto – se continuassem essa conversa dali a minutos estaria no condominio de Luan gritando aos quatro cantos que o amava -  não sei se você percebeu mais passa da meia noite.

- Só mais um segundo tá? - Augusto saia com pressa, voltando em seguida com uma manta enorme e uma caixinha: - Toma, você não vai dirigir agora, vai dormir aqui.

- Augusto eu não posso!

- Vai sim, começa a cobri-la e senta ao sue lado: - Amigos ok? Não vou te deixar ir perturbada assim, vamos dormir aqui, acho que meu sofá é confortável não é?

- Melhor que algumas camas, não duvide! Mais e essa caixinha – pergunta curiosa.

- Bom, essa caixinha, tem uma coisa muito especial aqui e eu percebi que você precisa mais do que tudo, sabe aquelas joias de família que os seus pais te entregam pra quando namorar, ou casar?

- Augusto não, eu não quero – se negava a ver o que tinha na caixa.

- Mais é seu, você merece!

- Não, é da sua família!

- Pertenceu a minha bisavó, você usa tá certo? Quando não precisar mais me devolve – abre a caixa e vê um colar em prata antigo mais lindo, era um circulo que lembrava um caracol por fora tinha alguns brilhantes e o fecho que abria, revelando a imagem de nossa senhora de Fátima.

- É lindo, eu acho que já vi isso em algum lugar. – fica em dúvida.

- Impossível, nunca mostrei a ninguém – ficava desconcertado – apenas use, ficarei grato, como um amuleto da sorte, quando achar desnecessário, me devolva.

- Tudo bem, vou tomar emprestado como um amuleto – vira-se afastando o cabelo.

- Posso tirar esses colares todos? – ria.

- Claro – Augusto era rápido em instantes tinha colocado o colar em Cecília.

- Tome como forma de agradecimento por hoje, me diverti muito, e por aquele dia no carro, você mais que merece usar isso, porque ninguém me ajudaria a enfrentar meu medo como você o fez.

- Amigos lembra?

- Sim, amigos e eu vou te ajudar.

Se abraçavam e permanecem naquela posição, sentia alívio, Augusto era a pessoa certa pra saber de tudo, pra lhe ajudar, aconselhar, e entender, mesmo sendo loucura sabia que numa decepção ele estaria ao seu lado. – obrigada – respira agradecendo, fechando os olhos sob aquele peito forte que lhe inspirava proteção, nem se comparava ao de Luan, mais era aconchegante, seguro, como queria que seu irmão fosse que nem Augusto, preocupado, amigo e que lhe apoiasse, que a conhecesse de verdade como ele parecia conhecer. Mais começava a perceber que a falta que sentia de Arthur impondo sua presença era porque nunca a teve de verdade, nunca teve sua admiração, seu carinho, seus cuidados, como deveria receber do irmão mais velho. E isso doía, porque perder algo que possui e difícil, mais perceber que nunca teve esse “algo” é perder em dobro.

CONTINUA... 

Humm, será que o apoio de Augusto foi suficiente para ela se declarar pra Luan?

Será que já está na hora dela fazer isso??

Hahaha...

AGUARDEM...

Quando a emoção está a flor da pele, ambos(Luan&Cecília) podem revelar muitas coisas...

Curiosas?

Té amanhã!