Capítulo 22

As crianças tiveram ocupação durante todo o dia, a chuva não impediu em nada as atividades programadas, no pequeno salão do orfanato Maria Cecília e Augusto tentavam encenar uma pequena peça pegaram uma caixa enorme onde as crianças iam jogando os objetos e inventavam as falas na hora, cantaram, dançaram e para ironia do destino as musicas que mais tocaram naquele domingo foram as de Luan.

- Vocês gostam tanto do Luan Santana assim? – Augusto perguntava enquanto examinava algumas crianças.

- Sim Tio! – batiam palmas. – ele é lindo! – uma dizia – eu queria ir num show dele – outra levantava a mão – ele poderia vir nos visitar será que pode? – a outra falava lá do fundo.

Augusto encarava Maria Cecília, ambos sabiam da proximidade que Luan tinha com a família e Augusto suspeitava de algo a mais dela com o cantor: - Fora de cogitação – respondia -  seria mesmo? Se um dia ele viesse ali? Levar alegria para aquelas fãs em miniatura? Seria surreal e incrível demais! – Não Maria Cecília, ele é famoso demais e envolver nessa causa iria expor as crianças! – Lutaria para realizar qualquer sonho, menos esse.

O dia passava rápido demais quando estavam com as crianças, a chuva não deu trégua, eram quase 17 horas mais parecia noite de tão escuro e nebuloso, se despediram das crianças e da irmã Tereza que agradecia pela tentativa de ajuda.

Todos estavam esperançosos.

Voltavam para casa: - Estamos iniciando Março e uma chuva dessas? Não me acostumo com o tempo de Londrina – Ela comentava enquanto dirigia de volta, começava a escurecer, Augusto só ouvia – está cansado Doutor? Não tem pique suficiente pra aguentar as crianças? – ria.

- Mais ou menos, elas cansam demais e eu me divirto com isso, mesmo que fique detonado depois! Você passou muito tempo fora, mais as chuvas são normais nessa época.

- Nunca estive em março por aqui e ainda não me habituei! – admite.

 Augusto gostava de conversar a sério com ela quando ela queria, era inteligente, educada e centrada. - Intelectual estudando fora! – zomba.

- Aquele internato era um inferno! Mais aprendi muitas coisas lá!

- Você fala Italiano também não é? Lembro da Sônia ter comentado um dia – para e percebe que tinha falado algo errado, mais Paloma não se abala.

- Sou descendente de Italianos e meio que me obrigaram a aprender – mentia, Arthur nunca se interessou pela língua da família, e ela se esforçava pra mostrar ao pai que tinha aprendido, na tentativa inútil de cativar e ter sua atenção – mais também falo espanhol e inglês.

- Eu me identifico muito com... – um barulho interrompe a conversa dos dois, o carro tinha parado.

- Droga! – Maria Cecília reclama.

- O que foi?

- Acho que atolamos. – baixava o vidro e observava a roda traseira,  quanto mais acelerava mais afundavam, chovia e os pingos molhavam seu rosto, estavam distantes da rodovia de acesso de volta a cidade.

- Ah não! – Vamos descer então – Augusto tentava abrir a porta enquanto Paloma travava.

- Você tá louco? Tá chovendo forte e eu não vou me atrever a isso, esperamos aqui, depois que a chuva passar tentamos.

- Mais...

- Sem mais Doutor, não vamos nos arriscar e pegar uma pneumonia certo?

Paloma liga a rádio mais o chiado era insuportável, Augusto não tirava os olhos da estrada, a chuva batia na lataria do carro parecia que os pingos iriam passar teto a dentro e encharcá-los, com tédio depois de alguns minutos Paloma recosta a cadeira e deita, seus pensamentos estavam longe, no orfanato talvez ou em Luan e no seus olhos curiosos e quentes. Meche a cabeça tirando isso da mente, presta atenção agora em Augusto, ele estava visivelmente incomodado, parecia ter calor, estava suando, ela liga então o ar.

- Está tudo bem? Você está vermelho. – fica preocupada.

- Não, está tudo bem! – sorri sem graça, falava com dificuldade e é olhado torto por ela.

- Não, não está! Augusto – fala preocupada – você tem fobia a lugares fechados?

- Não! - fica mais nervoso e olhando pelos cantos. – Não tenho é só...

Ela levanta e segura-o pelo rosto, sabia que ele mentia – Olha pra mim ok? Se você ficar pensando nisso vai ser pior, a chuva tá passando e daqui a pouco saímos daqui.

- Eu quero sair agora! – falava com medo.

- Não vai, eu to aqui tá bom? Com você não tem do que temer, você deveria ter medo de mim apenas. – tenta descontrair.

- Você não sabe o que é sentir isso Paloma – chama-a pela primeira vez em meses por esse nome – eu não to bem, eu penso que vou morrer, então abre esse carro por favor? Tá me faltando ar.

- Calma, calma – o puxa fazendo-o olhar fixamente nos seus olhos – você é médico não é? – ele faz que sim – tem que superar seus medos – vira o rosto -  olha pra mim, eu não estou bem, lembra que me disse isso a uns dias?  -ele concorda – me sinto fraca, cansada demais e sim, não estou me alimentando direito então já que tenho um médico do meu lado porque não faz uma avaliação rápida? Assim tira o foco do seu problema e volta a atenção pra mim.

- Eu não consigo, você não entende? Isso é mais forte que eu, já fiz vários tratamentos e não vai ser você quem vai resolver– estava nervoso.

-  Não, não vai ser eu e sim você! Tenta, se um dia ficar preso numa sala de cirurgia vai abandonar seu paciente pelo seu medo?

- Não.

- Então...- ela fica esperando.

Augusto pega sua pequena maleta, a mesma que tinha  levado para examinar as crianças. – Vamos lá, abre bem seu olho -  pega uma pequena luz e aponta para Paloma, suas mãos tremiam.

- Ai, vai me cegar! – reclama.

- A quanto tempo não vai a um médico.  –ainda falava nervoso.

- A um tempo. – admite.

- Abre sua boca, quero ver sua garganta.

- Eu não escovei meus dentes!

- Abre a boca vai, como quer me ajudar se não coopera!

- Vocês está realmente levando a sério não é?

- Sou médico! - Ela faz um [AAAAAAAA] o que arranca uma risada de Augusto. - Anda logo vai isso cansa o maxilar!

- Paciente mais chata.

- Você que é chato – fecha a boca o encarando – nem sabe brincar de médico, leva muito a sério. – ri.

- A isso é uma brincadeira? – ela ri, já tinha esquecido sua fobia – deixa eu continuar os exames então , vira de costas – quero ouvir sua respiração e seu coração.

Ela vira, um tanto desconfortável no aperto do carro, Augusto levantava sua blusa, sentia seus dedos frios e trêmulos por debaixo de sua roupa.

- Hey Doutor, que abuso é esse? – descontrai.

- Que paciente mais impertinente, silêncio e me deixa continuar, sentia o equipamento frio em suas costas:  -respira fundo e solta – ela faz o que pede – mais uma vez, respira e solta.

- Tá bom? – sente ele deslizar as mãos por sob suas costas ajustando a blusa, causa-lhe arrepios.

- Não, vira de frente pra mim agora – ela vira e ele ouvia seu coração, a respiração próxima e a impaciência de Maria Cecília eram notáveis.

- Acabou?

- Pode ficar em silêncio? – ouve mais uma vez  - Perfeito – sorri – você até que foi boazinha n o fim, se fosse sempre assim faria um bem enorme a sociedade.

- Qual o diagnóstico? – cruza os braços.

- Não fizemos alguns exames mais a fundo mais posso pedir que...

- Vai logo Augusto, tenho alguma coisa? – não tinha paciência.

- Bom, aparentemente não, mais pela cor dos seus olhos está faltando algumas vitaminas na sua alimentação e sua respiração está cansada, corte os cigarros por favor.

- Não fumo muito.

- Mesmo assim, está quase anêmica e isso não é bom, se cuide! Se alimente e passe no meu consultório, estou preocupado com você! Sabia que Anemias graves viram leucemias? 

Muda o foco: - A chuva passou e veja só você! Conseguiu ficar calmo!

Ele ri:- Nem percebi – ela abaixa os vidros e Augusto põe a cabeça para fora inalando o mãximo de ar - obrigado por isso Maria Cecília. – entende que ela não queria mais conversar sobre sua saúde.

- Gostei quando me chamou de Paloma!

- Mais não é ela que está aqui comigo hoje.  – a olha com satisfação.

Ignora: - Vamos descer e nos sujar de lama pra terminar bem o nosso dia certo? Temos um carro pra desatolar Doutor!

Já estava completamente escuro quando conseguiram sair da estrada, Augusto tinha lama dos pés a cabeça: - Olha como vou voltar!

Maria Cecília ria: - Ainda vejo seus olhos – ri - problema vai ser o banco do carro e veja minhas botas?!

- Problema vai ser tirar essa lama toda da minha roupa, coitada da Joana.

- Poxa, agora to com dó, pensei que morava sozinho.

- E moro, mais tem a Joana que cuida das minhas coisas então...

- Vou pensar na Joana da próxima vez. – ri. – parando na rua de Augusto, observando sua casa. – Pra que uma casa tão grande e você sozinho?

- Recebo meus pais algumas vezes, nem moram tão distante assim então...Vamos entrar? Deve ter chocolate quente.

-Não obrigada – ele já sabia a resposta – preciso de um banho e você também – aponta pra lama, já está tarde e a visibilidade está pior então melhor ir.

- Não vai mesmo aceitar? Tome como uma forma de agradecimento pelo que me fez.

- Não tem que agradecer, apenas não espalhe isso por aí. – sabia que não diria – não posso perder minha fama de má.

- Maria Cecília você...

Não termina de ouvir, já tinha ligado o carro e partido, algumas ruas estavam escuras e muito molhadas, tinha faltado luz. – ótimo! – sentia que a chuva começava mais uma vez e os pneus dançavam, diminui a velocidade, um carro com o farol muito alto se aproxima quando estava chegando próximo a sua casa, vinha na sua direção o que a fez frear atravessando o seu carro na rua quase virando  -Maluco! – gritava vendo o carro parar bem na sua frente, não pensa duas vezes e desce histérica, a chuva molhava seus cabelos e sua roupa mais não importava, odiava imprudência e era pior quando estava certa.

- Você comprou sua habilitação ou o quê? Enlouqueceu? Não sabe discernir direita da esquerda? Ou não percebeu que está chovendo? – apenas observa o vidro baixar lentamente e se surpreender ao encontrar aquela figura que sorria pra ela, o que aumentou ainda mais sua raiva.

 CONTINUA... 

Já imaginam quem dirigia o carro hein? E pra onde ele estava seguindo?

Não esqueçam que teremos outro capítulo de cena dentro do carro, e dessa vez Augusto não será a bola da vez...e digamos que será bem melhor do que este! Hahaha...

Aguardem muitas coisas vem por aí, e acreditem...vocês vão A-D-O-R-A-R

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Estou a disposição!

Paz&Bem

@_Vanesssaa_